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A necessidade de um plano municipal para o desenvolvimento de Itaguara


A economia de Itaguara apresenta um cenário de baixo desenvolvimento econômico. No ano de 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita atingiu R$ 25.417,15, valor abaixo da média da macro região de Divinópolis. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) em 2010 foi de 0,691(IBGE), considerado médio, de acordo com a escala do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).


Além disso, os trabalhadores formais em Itaguara recebem, em média, 1,6 salários mínimos, uma das menores médias da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), como evidenciado na imagem a seguir.



O que está por trás do desenvolvimento econômico limitado de Itaguara? Para aprofundar nossa análise, iremos além dos indicadores da cidade e de sua estrutura produtiva. Inicialmente, ampliarei a análise para o contexto nacional, em seguida concentrarei na região em que estamos inseridos e, por fim, examinarei o setor produtivo da cidade.


Complexidade produtiva do país


Para começar, vamos aprofundar na cadeia produtiva brasileira. A tabela a seguir proporciona uma visão abrangente do panorama de empregos e ocupações no Brasil em 2011, segmentados por subsetor de atividade econômica. Além disso, compara esses dados com outras economias globais, incluindo as mais desenvolvidas e as em desenvolvimento. A classificação das atividades econômicas foi organizada em 9 macro-setores: agropecuária, indústria extrativa, indústria da transformação, construção civil, serviços sofisticados (empresas, setor financeiro e imobiliário) e serviços não sofisticados.



Destaca-se que o Brasil concentra uma significativa parcela de sua mão de obra na agropecuária e nos serviços não sofisticados, setores onde a produtividade do trabalho tende a ser inferior, conforme evidenciado pela tabela de valor adicionado/ocupação (GALA). Até o ano de 2009, a indústria brasileira detinha uma expressiva participação na ocupação de trabalhadores, entretanto, a partir de 2013, observa-se uma reversão preocupante desse cenário, com a indústria perdendo sua relevância como empregadora.



É fundamental destacar a relevância de uma economia intricada e diversificada, como ilustrado na imagem a seguir, que demonstra uma correlação positiva entre a complexidade econômica e a riqueza per capita. Simplificando, quanto mais sofisticada e variada for uma economia, maior será a prosperidade de sua população.



A Macro Região de Divinópolis

 

A macro região de Divinópolis apresenta um PIB Regional expressivo, totalizando R$ 46,399 bilhões, o que representa 6,8% do PIB do estado de Minas Gerais. No ano de 2020, o PIB per capita atingiu a marca de R$ 28.366,2, conforme dados do Painel Regional da Indústria Mineira da FIEMG.


 Ao examinar a composição das receitas municipais, destaca-se a notável dependência das transferências intergovernamentais. Esta dependência é claramente evidenciada pelo Índice de Dependência de Transferências (IDT), conforme revelado em uma pesquisa conduzida nos Municípios da Região Geográfica Intermediária de Divinópolis, com base nos dados da Fundação João Pinheiro de janeiro de 2021.


 Por fim, na imagem abaixo, observamos a composição do PIB em relação ao Estado e Setores chaves da Região.


 

Indicadores itaguarenses


 Após analisar brevemente a situação do país e da região em que estamos inseridos, vamos aprofundar alguns aspectos da economia itaguarense, começando pela Distribuição do Valor Agregado. Esta é uma parte essencial do cálculo do PIB, auxiliando-nos a compreender quais setores da economia estão gerando mais ou menos renda. 



 O setor de Serviços tem, portanto, a fatia mais expressiva do valor agregado pela economia local, evidenciando sua importância para Itaguara.

  Agora, examinemos a distribuição dos setores empregatícios com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2021. A distribuição ficou assim: 45,9% no setor de serviços, 13,9% na administração pública, 3,2% na agricultura e 37% na indústria.

 


 Impressiona o fato de que o setor público é um dos maiores empregadores formais em Itaguara, representando 13,9% do total de vínculos empregatícios registrados no município naquele ano. Em outras palavras, a prefeitura e seus órgãos vinculados foram responsáveis por quase um sétimo de todas as vagas na cidade.


 O próximo gráfico examina as ocupações mais frequentes, ficando evidente o motivo da baixa média salarial em Itaguara. Visto que as funções mais comunsdesempenhadas pelos trabalhadores locais são majoritariamente de menor qualificação e remuneração, como vendedores, frentistas, marceneiro, açougueiro, faxineiro etc.



  Em síntese, os dados apresentados revelam que a economia da cidade é pouco diversificada e baseada majoritariamente em ocupações de baixa complexidade. Isso representa um obstáculo para o desenvolvimento econômico do município, uma vez que a falta de diversificação e de ocupações mais complexas limita o crescimento, a inovação e a geração de renda.



Plano Municipal de Desenvolvimento

 

O grande obstáculo para o desenvolvimento de uma região, seja uma cidade ou um país, é a ausência de continuidade em políticas sólidas a longo prazo. Um exemplo emblemático é a China, que conseguiu dar saltos massivos em sua complexidade econômica graças a políticas desenvolvimentistas consistentes (GALA,2016).



 Na maioria das cidades, o que frequentemente acontece é que o líder executivo acaba assumindo o papel de um "apagador de incêndios". Isso se deve ao fato de que a demanda para resolver pequenos problemas e emergências do dia a dia monopoliza sua atenção.


 Nesse cenário, a criação de um Plano Municipal de Desenvolvimento pode ser uma excelente maneira de garantir continuidade e consistência das políticas públicas, independentemente das mudanças na administração. Esse plano pode estabelecer metas, estratégias e prazos claros para o desenvolvimento sustentável do município nos próximos 5-10 anos.

 

Um exemplo é a cidade de Blumenau que desenvolveu o Plano Estratégico de Desenvolvimento Econômico Municipal (PEDEM) com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico sustentável até 2030. O plano identificou eixos estratégicos para o desenvolvimento, incluindo Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), Indústria Eletro metalmecânica e Cadeia Têxtil.

Detalhar as ações do Plano Municipal de Desenvolvimento Itaguarense vai além do escopo deste texto. Entretanto, alguns desafios são evidentes, como a necessidade de avançar na infraestrutura, como robustez energética e telecomunicações, incluindo a implementação da rede 5G. Além disso, é crucial engajar-se em programas de investimentos, a exemplo do InvestMinas. A criação de um fundo de desenvolvimento, inspirado no modelo adotado por Itatiaiuçu (BDMG), e a busca por suporte técnico e estudos junto a instituições como o SEBRAE e a Fundação João Pinheiro podem desempenhar um papel crucial na implementação de políticas de desenvolvimento, com foco nos pilares estratégicos de desburocratização e integração regional, inclusive identificando a vocação econômica da cidade. 

 

Em suma, o desenvolvimento econômico limitado de Itaguara está relacionado à baixa complexidade e diversificação de sua estrutura produtiva. A economia local é majoritariamente baseada em serviços e ocupações de menor qualificação e remuneração. Para reverter esse cenário e alavancar o crescimento sustentável do município, é essencial a criação e implementação de um Plano Municipal de Desenvolvimento de longo prazo. Esse plano precisa estabelecer metas e estratégias claras, com foco na infraestrutura, atração de investimentos, aquisição de suporte técnico e identificação da vocação econômica da cidade. Apenas com políticas públicasconsistentes e integradas nesses pilares, será possível promover a diversificação produtiva, aumentar a complexidade econômica e, consequentemente, elevar opadrão de vida em Itaguara. 


Referências


Gala, P. (Data desconhecida). O Brasil tem baixa produtividade agregada pois emprega pessoas em setores não sofisticados e de baixa complexidade. Disponível em: https://www.paulogala.com.br/o-brasil-tem-baixa-produtividade-agregada-pois-emprega-pessoas-em-setores-nao-sofisticados-e-de-baixa-complexidade/


FJP. (19 de outubro de 2023). INFORMATIVO FJP – CONTAS REGIONAIS/PIB DOS MUNICÍPIOS - PRODUTO INTERNO BRUTO DA REGIÃO GEOGRÁFICA INTERMEDIÁRIA DE DIVINÓPOLIS, v. 5, n. 12.


FJP. (31 de outubro de 2023).SETORES IMPULSIONADORES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO DA REGIÃO GEOGRÁFICA INTERMEDIÁRIA DE DIVINÓPOLIS, v. 5, n. 12.


FJP. (12 de janeiro de 2021). Municípios da Região Geográfica Intermediária de Divinópolis. Informativo


FJP - Finanças Públicas, v. 3, n. 01.

FIEMG. (Abril de 2023). PAINEL REGIONAL DA INDÚSTRIA MINEIRA - REGIONAIS FIEMG - Centro-Oeste.


GOV MG. (2016-2027). Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado - Perfil Territorial: Oeste.

Governo de Minas Gerais. (2016-2027). PMDI - Plano Mineiro De Desenvolvimento Integrado - Perfil Territorial: Oeste - Desenvolvimento econômico e social sustentável de Minas Gerais.


Data MPE Brasil. (2021). Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Disponível em: https://datampe.sebrae.com.br/profile/geo/itaguara

Gala, P. (2016). O milagre chinês visto da ótica da complexidade econômica. Disponível em: https://www.paulogala.com.br/o-milagre-chines-visto-da-otica-da-complexidade/


Sebrae. (2021). Plano de Desenvolvimento Econômico - PDE Bandeirantes. Disponível em: https://cidadeempreendedora.ms.sebrae.com.br/wp-content/uploads/2021/12/relatorio_pde_bandeirantes_sebrae_297x21cm_DIGITAL.pdf


Prefeitura de Blumenau. (2023). Plano Estratégico de Desenvolvimento Econômico Municipal (PEDEM). Recuperado de:https://www.blumenau.sc.gov.br/governo/secretaria-de-desenvolvimento-economico/pagina/plano-desenvolvimento-economico-sedec


Agência Minas. (2 de outubro de 2023). BDMG vai gerir fundo de desenvolvimento de Itatiaiuçu para novos investimentos e diversificação da economia. Disponível em: https://www.agenciaminas.mg.gov.br/noticia/bdmg-vai-gerir-fundo-de-desenvolvimento-de-itatiaiucu-para-novos-investimentos-e-diversificacao-da-economia

 

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