Nos últimos anos os países testemunharam uma revitalização das políticas industriais, especialmente em resposta à pandemia de COVID-19 e às crescentes tensões geopolíticas. Esses eventos, que incluíram conflitos significativos, desencadearam transformações profundas, demandando uma análise renovada da economia, conforme enfatizado em um estudo recente do FMI (2024).
Dentre as manifestações desse cenário, destacam-se os vultosos investimentos que ultrapassam a cifra de US$ 2 trilhões provenientes dos Estados Unidos, delineando sua "estratégia industrial americana moderna", assim como os aportes expressivos que se aproximam de € 2 trilhões da União Europeia.
Nesse contexto, o Brasil apresentou o Plano "Nova Indústria Brasil", no qual a estratégia industrial será conduzida por missões. A iniciativa anunciada busca a harmonização dos objetivos sociais, ambientais e econômicos, destacando o potencial de transformar desafios, como a fome, mudanças climáticas e crises de saúde, em oportunidades de negócios e canais de investimento.
Os eixos desta política de inclusão produtiva e resiliência econômica são: a digitalização da indústria e das pequenas e médias empresas, o fomento das cadeias agroindustriais e da bioeconomia, a mobilidade urbana, a internalização da produção de insumos da saúde e de tecnologias críticas de defesa nacional.
Desindustrialização brasileira
Nas últimas décadas, o Brasil sofreu um processo acelerado e intenso de desindustrialização, sendo um dos casos mais precoces dentre os países capitalistas. Esse declínio industrial teve início já em meados da década de 90, muito antes do que ocorreu em nações desenvolvidas que vêm implementando políticas de reindustrialização recentemente. A desindustrialização brasileira, portanto, não é um fenômeno recente e vem se aprofundando gradualmente desde os primeiros governos petistas. O gráfico a seguir ilustra essa queda na produtividade da indústria de transformação brasileira ao longo das últimas décadas.
No entanto, a desindustrialização brasileira não é consequência apenas da falta de políticas direcionadas para o setor. Ela está intrinsicamente relacionada a problemas estruturais do país. Dentre os fatores estão: um sistema tributário complexo, oneroso e cumulativo; infraestrutura precária; escassez e alto custo de financiamento; baixa qualidade na educação; e persistente insegurança jurídica. O gráfico a seguir ilustra como esses gargalos sistêmicos afetam o Brasil na comparação com uma seleção de 18 países, entre desenvolvidos e em desenvolvimento.
Dado esse contexto de desindustrialização prematura no Brasil, a Nova Indústria Brasil (NIB) parece ter mais o potencial de desacelerar esse processo do que efetivamente revertê-lo ou transformar o cenário como um todo. A NIB pode contribuir para conter a queda da indústria, mas sua capacidade de promover uma reindustrialização ampla e sustentada ao meu ver é limitada, considerando os entraves e gargalos estruturais existentes.
Não restam dúvidas de que um processo abrangente, profundo e dinâmico de industrialização é essencial para acelerar o desenvolvimento e permitir a convergência da renda brasileira aos níveis dos países desenvolvidos. Porém, acredito que, para reverter efetivamente a tendência de desindustrialização e impulsionar o desenvolvimento do país, será necessário implementar políticas públicas que promovam a viabilização da infraestrutura nacional, incluindo a implementação de megaprojetos nos setores energético e ferroviário. Isso incluiria a construção de uma extensa malha ferroviária interligando o país de ponta a ponta, do Atlântico até o Pacífico, bem como a instalação de um número expressivo de usinas nucleares estrategicamente distribuídas no território nacional. Essas iniciativas proveriam infraestrutura energética e logística robusta para sustentar a reindustrialização.
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