Hoje, vou escrever sobre o próximo grande evento que surgiu da cúpula dos BRICs+ em Kazan, na Rússia: o BRICS Pay, que remodelara direta ou indiretamente a vida de todos no planeta.
BRICS é uma aliança econômica e política formada por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Surgiu como "BRIC" em 2001, idealizada pelo economista Jim O'Neill, e vem sofrendo levas de expansão nos últimos anos. O grupo reúne países com grandes populações, vastos territórios e economias em crescimento, sendo formalizado em 2009 para promover a cooperação, fortalecer economias e atuar como uma voz unificada em negociações internacionais.
Atualmente, após a invasão russa da Ucrânia e a guerra comercial entre os EUA e a China, o bloco experimentou uma significativa guinada em coesão e expansão. Seu foco está em reduzir a influência das grandes potências ocidentais, buscando maior controle sobre o sistema financeiro internacional.
No início deste ano, o bloco BRICs anunciou a criação de uma plataforma de pagamento baseada em blockchain, que redefinirá a posição econômica global do grupo. Além disso, a plataforma competirá com alguns dos maiores sistemas de pagamento do mundo, incluindo o sistema SWIFT, dominado pelos EUA e seus aliados.
De acordo com um relatório do Yahoo, baseado em informações russas, 159 países demonstraram interesse em aderir ao novo sistema de pagamentos. Embora declarações anteriores sugerissem a participação de 160 nações, o número foi ajustado em relatórios subsequentes.
O sistema de pagamento é crucial para os esforços de desdolarização do bloco. Ele fornecerá aos países participantes uma via para realizar transações em moedas locais, o que reduzirá significativamente a dependência do dólar americano para o comércio internacional.
Isso será vital para a Rússia, especialmente após as sanções de 2022, que afetaram gravemente suas capacidades comerciais. Agora, o bloco está pronto para competir de forma mais abrangente no cenário global, com força para competir com Euro e Dólar por meio da plataforma de pagamento.
A confirmação de que 119 países estão prontos para participar da plataforma BRICS Pay coincide com uma nova onda de expansão do grupo, que inclui a adesão de Turquia, Indonésia, Bielorrússia, Cuba, Bolívia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria, Uganda e Argélia como novos parceiros do bloco.
O que é o BRICs Pay?
De forma simples, imagine uma carteira digital tipo PicPay dos BRICS, na qual você pode depositar yuan na China e comprar produtos, por exemplo, da Rússia ou do Brasil em rublos ou reais, sem que o dólar intervenha na transação.
Este é um novo sistema monetário baseado em blockchain, a mesma tecnologia do Bitcoin, que será usada para rivalizar com o SWIFT. Inicialmente, o sistema será implementado nas nações destacadas no mapa.
O papel de determinar as taxas de câmbio caberá a uma nova moeda comum chamada "the unit", composta por 40% de ouro das reservas dos bancos centrais dos países membros e 60% de moedas locais, com a possibilidade de participação do petróleo em certa proporção. É uma estrutura similar ao SDR do FMI e do Banco Mundial.
O anúncio do “the unit” representa, essencialmente, um novo Bretton Woods, reintroduzindo parcialmente o ouro como base para a determinação das taxas de câmbio, operando como uma forma de forex paralelo — um sistema de câmbio alternativo ao mercado cambial tradicional.
Em resumo:
· Nesse novo espaço econômico, os bancos centrais mantêm sua autonomia monetária, ou seja, podem emitir dinheiro, mas as taxas de câmbio são amplamente determinadas pelas reservas de ouro mantidas;
· Limita-se a possibilidade de endividamento excessivo dos governos, impedindo ambições inflacionárias de líderes locais;
· Reduz-se drasticamente a força do dólar e a necessidade de reservas em dólar pelos bancos centrais dos BRICS;
· Aumentam-se as pressões inflacionárias no espaço do dólar e da zona do euro;
· Consolida a hegemonia do yuan, com as maiores reservas de ouro e uma ampla base produtiva global;
· Geopoliticamente, já se delineou uma força rival ao domínio unipolar dos EUA.
Vale destacar que a tecnologia usada para construir o "the unit" é o M-Bridge, e será compatível com as futuras moedas digitais do DREX (Real digital), Euro e do Dólar, que provavelmente surgirão em breve.
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