Cresci ouvindo de meus pais e professores que “ cabeça vazia era a oficina do diabo”e ficava imaginando o diabo com aquele rabão apertando os parafusos de minha cabeça se eu não a enchesse de leituras e pensamentos, morrendo de medo de me tornar uma serva do tinhoso, pela preguiça ou pela inapetência intelectual. Enchi minha cabeça de dúvidas, de crenças, de certezas, de ilusões, de teorias conspiratórias, anarquistas, comunistas, liberais, flertei com vários teóricos, inclusive Maquiavel ( que deve ser leitura obrigatória para quem quer entender o que é política e a política) e Gramsci -filósofo marxista italiano, o qual dizia que os socialistas deveriam tomar o poder através da infiltração dos espaços culturais, ou seja, ir comendo pelas beiradas, numa revolução sem armas, silenciosa, ocupando postos nas universidades, nos meios de comunicação, até chegar ao poder e nele perpetuar . No Brasil, o PT seguiu esta cartilha, como podemos ver jornalistas apoiadores do partido ou do seu líder na Rede Globo, na Folha de São Paulo, nas Universidades Federais, artistas e intelectuais ligados à esquerda marxista. Mas voltando ao mote do meu pensamento, que foi encher a minha cabeça, “para não dar espaço ao diabo”, passei pela esquerda radical, simpatizei com Trotsky ( principalmente por ter sido amante de Frida kahlo, que eu achava um” most”, hoje nem tanto. ...) e odiei Stalin, claro! Sonhei ir a Cuba, admirei Fidel, Che, Marighela e tantos falsos heróis que o cinema e alguns historiadores mal intencionados pintaram pra uma juventude sonhadora e saída de uma ditadura mequetrefe latino-americana.
Foto: Eduardo F S Lima/Futura Press/Folhapress
A maturidade me ensinou a separar o joio do trigo, me afastei da visão messiânica que tinha da esquerda e busquei sair da bolha, que quando simpatizamos com uma idéia ou causa, entramos e nos negamos a ouvir o contraditório. Procurei mais leitura, mais conhecimento, idéias novas, pessoas, que eu nunca tinha ouvido falar, pesquisei, foi libertador sair desta visão unilateral, onde você só ouve e lê o que agrada aos olhos e aos ouvidos e fora dela, você vê o mundo, seu país, sua cidade, seu estado, com a imparcialidade necessária. Precisamos não só encher a cabeça de idéias, mas ter visão crítica dessas idéias. Onde elas me levarão? Qual relevância elas terão para mim, para minha cidade, para meu país?
Mas infelizmente, nem todos somos críticos, ou temos condições de lutar contra as manipulações, principalmente em tempos de whatsApp, a principal ferramenta de manipulação da sociedade, a mais democrática e barata. Esta ferramenta ajudou a alçar Bolsonaro ao cargo de presidente da República, com mais de 57 milhões de votos, não porque era melhor, mas sim, ao desencanto dos eleitores brasileiros com a corrupção desenfreada dos governos petistas, que só foi estancada pela lava jato. O Brasil, estava saindo de uma crise econômica de origem interna e externa, onde Temer, gostem ou não, havia colocado o país nos trilhos. Os ventos sopraram a favor de Bolsonaro, mas ele não estaria a altura do cargo para o qual seria eleito e o exerceu com a postura e a arrogância de um Imperador. Com a intenção de se perpetuar no poder,se cercou de gente, de sua confiança, mas sem competência, sem conhecimento e sem noção. Deu no que deu, perdeu as eleições, para Lula, que por” filigranas jurídicas” teve seus processos anulados pelo STF e pôde concorrer ao pleito de 2022.
Bolsonaro, durante os quatro anos de seu governo foi aquele diabo rabudo que povoava meu imaginário na infância e adolescência e junto de seus filhos rabudinhos e assessores, foi manipulando e trabalhando a cabeça de pessoas mal informadas, pouco escolarizadas, ou mesmo de visão messiânica a respeito do presidente e do que ele dizia representar: Deus, Pátria e família. Estas pessoas se informavam basicamente pelo zap e se achavam extremamente bem informadas e muito próximas do presidente da República, que diariamente de forma teatral representava na televisão e em vídeos que eram repassados via zap o seu jeito de homem do povo e simples de governar. “Uma mentira dita mil vezes tornase verdade” (joseph Goebbels).
Bolsonaro, não teve estatura e nem postura de estadista, confabulando e arrumando inimigos , que por ventura atravessassem o seu caminho , ou de seus filhos, eliminando ou dispensando amigos que poderiam se tornar um empecilho à sua reeleição, uma obsessão desde o dia de sua posse. Toda esta obsessão se transformou numa guerrilha virtual, perpetrada principalmente por seu filho vereador do Rio de Janeiro , Carlos Bolsonaro, montou um QG em Brasília para coordenar todo este esquema de disparo de mensagens no submundo da internet. Bolsonaro e principalmente Carlos e seu grupo alimentavam com fakenews centenas de grupos de whatsApp país afora e também no exterior. As postagens, falavam de fraude nas urnas, incitava o golpe militar, em caso de derrota de Bolsonaro nas eleições e foram fazendo desses incautos presas fáceis para uma grande massa de manobra.
O caldeirão já estava fervendo e Bolsonaro como todo covarde, não aceitando a derrota nas urnas e nem assumindo a culpa por ela, preferiu se esconder para urdir o PLANO B. A massa de manobra estava no ponto, bastava instiga-la, fomentá-la e ao mesmo tempo tentar uma quartelada. As Forças Armadas, sempre com um passo atrás com Bolsonaro , como também com Lula, uma parte da caserna querendo sublevar, a outra querendo a ordem, o novo governo tentando apaziguar e ao mesmo tempo, despolitizar as Forças, o MODUS OPERANDIS de Brasília em férias e feriados , a má vontade da PM do Distrito Federal e a incompetência das autoridades constituídas, levaram a um apagão geral no controle da baderna e quebra- quebra . A multidão saiu como gado, pela Praça dos Três Poderes atropelando tudo e ainda produzindo provas para a posteridade. Muitos, achavam que estavam salvando a Pátria do Comunismo, sem se dar conta de que estavam praticando crimes , inclusive de terrorismo e que seriam presos e julgados por isso.
O dia oito de janeiro de 2023, deve ficar conhecido pela história, como o dia da Infâmia, contra um Patrimônio Mundial da UNESCO, contra os Poderes constituídos do Brasil, contra a nossa Carta Magna, contra o povo brasileiro que paga regiamente seus impostos e se vê continuamente desrespeitado. Que se investigue com lisura, sem meias verdades e sem viés ideológico, punindo a todos que falharam ou cometeram crimes .
Comments