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Foto do escritorMaria Conceição

As dicotomias da idade e a realidade que te toca


A língua portuguesa  é substanciosa e cheia de metáforas, prefixos, sufixos, gerúndios e tantos objetos, que não sendo especialista, não irei divagar, para não  me perder em suas orações subordinadas ou indiretas. As metáforas me seduzem especialmente, pois através delas, podemos dizer o que não queremos dizer.  Vou me ater aos sinônimos e numa palavra que tem vários sinônimos emnossa língua e em várias outras, mas que provoca o mesmo sentimento em todas elas: etarismo, ou ageísmo, ou idadismo. Todas elas têm o mesmo significado, o preconceito com a idade.


O sufixo ismo, muitas vezes ,serviu para dominar e subjugar povos e nações que foram submetidas a genocídios como o Holodomor ( GrandeFome, morreram mais de 1 milhão de pessoas)na Ucrânia em 1922 sob o Socialismo de Stalin na URSS, o Holocausto (judeus, Leste europeu, morreu mais de 6 milhões de pessoas), sob o Nazismo de Hither. O Fascismo de Mussolini, matou mais de 1 milhão de pessoas na Itália. O racismo, no Brasil , mata através da exclusão, da perseguição, da omissão, do preconceito, da falta de oportunidades e de 300 anos de escravidão sem reparação.


Desfiei este rosário, para ilustrar alguns ismos que nocautearam e nocauteiam a humanidade em todos os tempos, mas nem todos os ismos, são do mal, alguns são antagonismos como o humanismo e o cristianismo.Quanto mais materialista e menos evoluída uma sociedade, mais etarista e excludente ela será. Vivemos em eterna competição, em que se valoriza o novo, o belo, o rico, o muito, a ostentação e esquecemos do espiritual, da sabedoria que só adquirimos com a vivência e com a experiência.  


No Brasil, as mulheres sofrem muito mais de etarismo que os homens. Os homens, podem ser vítimas deetarismo , quanto às suas carreiras ou empregos, já as mulheres, quando vão envelhecendo tudo torna-se barreira para elas. Qualquer desculpa, serve para tirá-las do MERCADO, ou de um relacionamento, ou de um concurso, seja de qualquer lugar que ela incomode a sociedade.” Mulher mais velha não pode namorar homem mais jovem”, mas o contrário, não só é permitido, como é festejado.


Quando jovens, achamos que seremos eternamente jovens. Criticamos a todos. Velhos, são meus pais, meus tios e ” aquela vizinha solteirona metida a besta , que gosta de parecer mais jovem, que deveria ir para a igreja ao invés de ir ao buteco”. Mas a idade chega para todos, a não ser que você morra como Jim Morrissom, ou Amy Winehouse por exemplo, se for uma celebridade, se não for, vai ser esquecido com o tempo, como todo mundo o é.


Acho que todos nós que estamos na meia idade , ou quase na terceira que é o prelúdio da velhice e a morte, já sofreu algum tipo de preconceito, ou passou algum constrangimento pela idade. Eu particularmente, sofri vários, mas como sou delicada, igual a coice de mula, devolvi o deboche, com o mesmo sarcasmo que me foi enviado.


Não é fácil ser mulher, solteira por opção, hétero,independente, dona de seu nariz, aposentada e feliz. Ah não dá! você se torna um” objeto de estudo”, pois somos moldados dentro dos parâmetros de uma sociedade patriarcal portuguesa, onde o único papel da mulher era casar e procriar. Se não casasse, ou ia para um convento ou tinha de morar de favor na casa dos irmãos, normalmente, nem herança, as moçoilas tinham direito (na sociedade portuguesa e antigamente também no Brasil), e além de cuidar dos sobrinhos, ainda teriam como destino, o celibato eterno. Daí o apelido pejorativo de solteironas que hoje não se encaixa mais, pois ninguém mais é celibatário.

 

A mídia tem nos mostrado diversos casos de etarismo no Brasil, como em Bauru, onde uma estudante de quase de quarenta anos, foi considerada velha para entrar na faculdade por meninas de vinte, que não deviam nem saber porque estavam ali. A poderosa” Vênus Platinada”, praticou uma demissão em massa de jornalistas, em sua grande maioria acima dos cinquenta anos de idade, com altos salários, para enxugar sua folha salarial. As empresas privadas quando querem  desonerar sua folha de pagamento,  demite primeiro os mais velhos, pois geralmente, são os de maior nível salarial.


O etarismo, é o mais universal dos preconceitos, independentemente de sua cor, da sua orientação sexual, da sua profissão, da sua condição econômica, um dia você vai sentí-lo na pele, principalmente aqui, em nosso país, onde a base da  pirâmide etária é majoritariamente jovem e será por muitos anos ainda. Mesmo com a diminuição do número de filhos por mulher e o aumento do número de pessoas com mais de sessenta anos, somente daqui há uns cinquenta anos , teremos uma mudança significativa em relação ao idadismo, com o envelhecimento progressivo da população brasileira e diminuição do número de crianças e jovens.


Os países mais desenvolvidos têm a pirâmide bem diferente da nossa e portanto o etarismo não é tão gritante como aqui no Brasil. Na França por exemplo, o envelhecimento da população é muito maior do que a brasileira, o que está causando sérios problemas com a previdência do país. Macron, com sua usual falta de habilidade e sem necessidade de ter popularidade (está no segundo mandato), de forma autoritária passando por cima do Parlamento, elevou a idade de aposentadoria de sessenta e dois para sessenta e quatro anos, utilizando um dispositivo da Constituição Francesa e convulsionando o país.


Neste sistema, que é igual ao do Brasil, quem está na ativa paga a previdência até se aposentar e a roda gira. Porém , com a diminuição de contribuintes da previdência, ocorre um rombo, onde a única solução encontrada pelos governantes de plantão, que gerem mal nosso dinheiro, são as porcas reformas previdenciárias. Este é o lado ruim do envelhecimento.


Mas nem tudo é ruim ao envelhecer. Para as rugas, temos o botox e os tratamentos antienvelhecimentos, temos os treinos físicos, as caminhadas, os apliques de cabelos, as cirurgias plásticas e você pode envelhecer bem e estar bonito ou bonita em qualquer idade.  Entrar e sair em qualquer lugar porque todos somos livres para ir e vir. Claro que  não vai sair por aí aos setenta de mini saia, ou querer aos cinquenta parecer ter trinta.


Temos que assumir nossa idade com classe e dignidade, cuidando da aparência e principalmente de nossa saúde e espiritualidade e quando chegarmos em nossas últimas estações, agradecermos a Deus pela vida produtiva e bonita que vivemos, com dores, mas com amores.

 

Maria da Conceição Lima Costa - Professora aposentada da Rede Municipal de Belo Horizonte – Licenciatura Plena em Geografia -UFMG/INCOR- Pós-Graduação em Educação Ambiental pela Faculdade Rio Branco- SP e Política e Sociedade – Faculdade São Luís- Curitiba-PR.

 

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