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Foto do escritorMarcelo Lenna

Brasil: uma terna miragem?


No ano de 2022 comemoramos, de forma bastante tímida, o centenário da aclamada Semana de Arte Moderna de 1922 - digo aclamada pois, graças a ousadia de cinco artistas (O chamado Grupo dos Cinco) a Arte genuinamente brasileira passou a ser reconhecida e considerada relevante no Brasil.


Uma das inquietações daqueles artistas era refletir sobre a identidade nacional: Afinal de contas, o que nos define como Brasileiros? Fato é que o tempo dissolve os dias - entre idas e escapulidas foram mais de 100 voltas ao redor do sol e a pergunta parece não estar clara... que dirá a resposta..! Minha gente, o assunto é sério e merece atenção : Não duvide “meu amige”: ser capaz de responder com altivez, enquanto sociedade, à pergunta Mor muda por completo a regra do jogo no nosso país.


De início, devemos ser antropofágicos pois, “só a antropofagia nos une”. A colocação de Oswald de Andrade, um dos Cinco, retoma a prática indígena, de forma metafórica, de nutrir do espírito, da coragem e da beleza da cultura nacional, única e exclusivamente nacional para avançarmos enquanto Nação. Para ele, se quiséssemos construir uma nação sólida e próspera, o imaginário cultural e artístico deveria ser atravessado pela história e pela cultura brasileira, dando chance ao povo de se identificar com a nossa trajetória e lutar por conquistas.


O problema é que a cem anos atrás, quem produzia, consumia e discutia arte não era o povo e sim uma seleta minoria de burgueses... A educação no Brasil nunca foi para todos. Ok Oswald, entendo a sua intenção e reconheço que seu manifesto é, de certa forma, “uma frecha” para o futuro, mas ainda não conseguimos levar arte de forma significativa nem mesmo para as Escolas, que dirá ao imaginário social nacional. Acho que você e os outros Quatro ficariam tristes ao ver no que o seu ousado e efervescente Movimento se transformou: conteudismo chato, tímidas páginas nas apostilas de literatura e vídeos rápidos no YouTube para a decoreba do vestibular.


Ainda, sobre a questão identitária, Mário de Andrade (mais um dos Cinco) parecia escrever um presságio ao lermos a sátira do metamorfo Macunaíma nos dias de hoje: nossos Heróis ( quais?) são de açúcar e não tem nenhuma cara, assim como nosso povo, nós. A forma como nossa sociedade se formou, sobretudo após o Golpe Republicano maçônico, não permitiu o desenvolvimento intelectual e progressista, por um motivo que me parece bastante óbvio: entre educar, de forma séria e crítica e domesticar, para que a máquina continue moendo gente e servindo aos respectivos lobbys, obviamente, ficaram com a segunda opção.


Assim, “estes são os males do Brasil: muita saúva e pouca saúde”. Explico: muitos abutres consumindo a carne ainda viva do nosso povo dócil, que padece por questões sociais não resolvidas, advindas do processo de formação sangrento e caótico que foi o Brasil. Entra ano, sai ano e brincamos de carnaval sem pensar, sem poder fazer autocrítica, sem fazer revolução, tomando placebos, dopados, intoxicados pelo álcool e pelo futebol, virando shots de hipocrisia. Parafraseando nosso herói sem nenhum caráter: “Ai, que preguiça”.


Destarte (poderia ser desastre rsrs), poemos, ao verivérbio: ao compararmos o espaço tempo entre a semana de 1922 com o a atualidade, definitivamente, avançamos muito pouco enquanto Nação. Ainda somos um rascunho pobre de um projeto modernista, turbinados pela ansiedade da ultramodernidade. Ainda, não é claro e nem parece importante ao povo, nem aos projetos de Governo, responder de forma assertiva às três perguntas básicas que devem nortear qualquer Nação Soberana: “Quem Somos? O que queremos? Para onde vamos?”.


Parece simples mas não é: a resposta para estas três perguntas aponta para a soberania nacional e, somente Ela pode nos tirar desse foço ambíguo e paradoxal que é o Brasil. Quem sabe, assim, respondendo as três questões, a síndrome do viralatismo seja afastada de vez de nossos sonhos? Quem sabe, assim, não ousaremos uma utopia educacional que norteie o nosso Ministério, em que nossas crianças, aos 7 anos de idade, tenha uma educação tão sublime que serão capazes de governar uma cidade?


Quem sabe, assim, não conseguiremos sonhar, lutar e conquistar juntos, independente do classicismo nojento, tudo aquilo que almejamos para o nosso progresso? Quem sabe, assim, a nossa democracia deixe de ser uma miragem? Quem sabe, assim, Deus não dê as caras, embrasando, trajadão de Juliette com a camisa da seleção, descendo o morro arrastando a havaianas e com a Bíblia do Darcy Ribeiro no sovaco, assoviando a Aquarela do João Gilberto?


No mais, “Acorda, Pedrinho!”. Acorda!

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