“Todo artista tem de ir aonde o povo está” - Milton Nascimento
O termo empoderamento, do inglês empowerment, diz respeito a aumento da força social, econômica e política de indivíduos carentes da comunidade. Este termo foi definido e traduzido por Paulo Freire e sintetiza a proposta da promoção de saúde. Ele possibilita que as pessoas adquiram as competências necessárias para o controle sobre os determinantes de saúde. É uma estratégia fundamental em saúde coletiva, pois fornece subsídios para que a população reivindique políticas de saúde pública.
Desde 1986, com a I Conferência Internacional de Promoção de Saúde, as ações educativas passaram a ser consideradas como uma das principais estratégias de atuação da saúde coletiva. Contrariamente ao que ocorria antes, quando essas práticas adotavam uma postura de culpabilização das pessoas pelo seu adoecimento, o novo modelo adotou uma postura em que o conhecimento é considerado um recurso, para que os indivíduos tenham maior controle sobre suas vidas e dos determinantes do processo saúde/doença.
Essa mudança de postura se fundamenta em uma concepção de educação emancipatória que vai ao encontro da proposta pedagógica de Paulo Freire. Parte-se do princípio de que ninguém não sabe nada, e que a população tem um conhecimento sobre o processo saúde/doença, o chamado senso comum. Ë um movimento contra hegemônico, vai contra o pensamento corrente, apontando outra forma de entender o mundo. Esse novo olhar vem se contrapor a um modo de compreensão da saúde fortemente influenciado pela indústria farmacêutica, por práticas de saúde de caráter hospitalocêntrico, onde o que vale é o conhecimento técnico-científico em detrimento do conhecimento popular.
A atual conjuntura demanda dos profissionais envolvidos no cuidado à população, trabalhadores da saúde e educação, garantir o direito de ter direito. Essa nova abordagem educativa em saúde propõe práticas emancipatórias promovendo empowerment da população. É preciso conscientizar a população da importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e de seus programas como o de Imunização, Programa Saúde na Escola, Farmácia Popular e Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU), dentre vários outros. Além dos programas, a população deve saber sobre a participação social no SUS, como nos Conselhos Municipais de Saúde e as Conferências. Uma educação em saúde de caráter emancipatório deve mostrar significado e sentido às pessoas da comunidade, capacitando-as a participar ativamente no controle dos determinantes de saúde e na da gestão do SUS.
Quanto a saúde bucal, especificamente, desejamos, com práticas educativas, que as pessoas conheçam quais fatores determinam as doenças e como preveni-las. Para o sucesso das ações de saúde é necessário que as pessoas atribuam sentido e significado. E nessa linha de pensamento, é preciso reforçar a importância da saúde bucal para mastigação, fonação e na nossa vida social. As práticas educativas devem adotar um conceito integral de saúde, pois abordagem unidisciplinares características da prática privada produzem menor impacto nos indicadores de saúde de uma população.
A nova educação em saúde bucal, parte integrante e integral da saúde geral, deve ser construída a partir dos parâmetros descritos acima. Deve promover emancipação dos sujeitos, maior compreensão do processo saúde/doença bucal, favorecendo que mediante estratégias de promoção de saúde e prevenção consigamos melhores indicadores epidemiológicos. Destaco que nos estratos socioeconômicos mais baixos, doenças como a cárie dentária ainda apresentam indicadores muito abaixo dos preconizados pela Organização Mundial de Saúde.
Finalizo esse artigo citando Paulo Freire. “A educação não muda o mundo, a educação muda pessoas, pessoas mudam o mundo”.
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