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Foto do escritorCamilo Lélis

Foi você que botou fogo na caixa d’água?


Imagem - Dall-E


Eu me lembrei dessa brincadeira que ocorria na infância, onde os adultos, querendo tirar sarro com a minha cara ou mesmo de outras crianças, diziam: Foi você que pôs fogo na caixa d’água, né! Fato é que a ingenuidade não dava margem para que o menino questionasse o conteúdo da frase, mas sim se mantivesse preso à imagem trágica que a imaginação criava. Eu não conseguia pensar que a água não pegava fogo, e obviamente caía “feito um patinho” na brincadeira deles, que riam desmedidamente. Também me recordo de outra brincadeira onde perguntava-se: Cadê o fogo que estava aqui? A água apagou, respondia-se.


Assim, introduzo o assunto que ora me motiva a escrever. Bora lá?


Prezado leitor, leitora do Sagarana Notícias, tudo bem? Espero que sim. Eu também sigo bem, digamos, mais reflexivo do que nunca. Mas, sigo aparentemente bem. Talvez sapecado além da conta, em virtude dos incêndios criminosos que assolaram e assolam o Brasil. E aí, na sua cidade, você também anda indignado com essa realidade? Ando sapecado, e por vezes realizando “a dança da chuva”, mas não tem funcionado.


Sapecado no sentido figurado, pois assim me sinto só de assistir a essa ignorante, burra e maldosa forma de chamar a atenção da sociedade, ou seria chamar dinheiro para o bolso?


Mentes perversas, não?


Fico imaginando os bichinhos, residentes nesses matagais e serras, sendo tostados pelas chamas. Outros, em disparada, partem rumo à cidade, pedindo socorro, como o lobo-guará que vi no noticiário outro dia. E olha que o animal corre risco de extinção, hein! Barbaridade, né, minha gente?


Da forma como os incêndios se deram, segundo os noticiários, com focos sendo detectados em pontos diferentes, porém no mesmo dia, quase na mesma hora – me refiro à situação de São Paulo – ficou no ar um grito de alerta: Crime orquestrado! Será? Quem pôs fogo? Quem mandou? Quem impulsiona o caos na sociedade?


Dizem que créditos bancários e indenizações a grandes latifundiários podem ser um dos motivos. Digo, um dos sinais de fumaça. Investigações apontam para uma maior fiscalização bancária sobre os tais créditos.


Bom, as investigações revelarão a relação desse fenômeno, promovido por mãos humanas, que culminou em prisões. Em tempo, Art. 250 do Código Penal: Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.


O sistema opera em redes. Teriam um grupo no WhatsApp? Uma voz de comando? Estamos conectados pelos sinais emitidos por empresas de telefonia, internet e agora regredindo a sinais de fumaça.


Então, habemus Papa?


Estamos conectados por uma insegurança que nos rouba o sono, o sagrado direito de uma boa noite de descanso. Sabemos que a guerra movimenta bilhões. Será que essa moda pega? Guerra em que bombeiros perdem a vida. Realidade distópica.


Uma amiga, companheira de trabalho, sempre me diz uma frase que tomo como se minha fosse: O que está acontecendo com as pessoas?


Não sou psicólogo nem sociólogo, mas me chama a atenção essa ideia incendiária, inconsequente, que ignora o maior problema que inúmeros municípios do Brasil e do mundo vivenciam: a questão ambiental. A questão dos recursos hídricos. A sobrevivência do planeta. A própria vida e de seus familiares.


O que está acontecendo com as pessoas?


Somos sobreviventes de uma pandemia causada pelo Covid-19, passamos recentemente pelo surto de dengue, assistimos à tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul e agora isso? Fogo? Por onde anda a razão? Tirou férias?


Entre causas naturais e causas humanas, nosso planeta segue sendo chicoteado. Segue sangrando. Será que é isso mesmo, um ritual de destruição, um ritual de autodestruição? Será que aquilo que nos cabe é o niilismo?


Niilismo, do latim nihil, quer dizer "nada". Dizem ser uma corrente filosófica, doutrina que perpassa por várias esferas do conhecimento humano e o mundo contemporâneo. Pensamento que se assemelha à ideia de fim, ao pessimismo. Descrença elevada à quinta potência ou algo nesse sentido. Um clima de ceticismo e rejeição a valores e propósitos estabelecidos. Uma ausência de sentido, um encontro com o vazio.


Mas pesquisei que outras correntes filosóficas veem esse movimento niilista de forma positiva, como o filósofo niilista político italiano Gianni Vattimo (filósofo do pensamento franco), que percebe na crítica niilista um desmascaramento, um descortinar da realidade nua e crua, que, uma vez posta, nos convoca a agir sobre ela. Nos convoca a atinar acerca de nossas liberdades e responsabilidades. Ora, não mais garantidas, não mais sufocadas ou controladas por coisa alguma. Vísceras à mostra.


Ou bem ou mal, a reflexão é constante e existencial.


Um visionário filósofo alemão, Friedrich Nietzsche (1844/1900), representante dessa corrente niilista, nos legou: “Às vezes, as pessoas não querem ouvir a verdade porque não querem que suas ilusões sejam destruídas.”


Sigam refletindo, eu sigo divagando.

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