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Greve nas Universidades Federais: Impasses no Governo Lula III


Lula em reunião com os reitores. Foto: Marcelo Camargo / EBC.


As aulas estão suspensas há quase dois meses em pelo menos 43 universidades federais e 50 institutos de educação no Brasil, devido à greve de professores e técnicos. A principal reivindicação é o reajuste salarial, que não ocorre desde 2016. A situação, na verdade, revela uma crise bem mais ampla: a incapacidade de o governo atender muitas das demandas sociais (incluindo a dos servidores grevistas) enquanto tenta equilibrar as finanças públicas e lidar com a famigerada "desconfiança do mercado".


A inflação acumulada desde a última recomposição salarial dos professores e técnicos das universidades federais atingiu 54%. Os grevistas pedem um reajuste entre 22 e 34%, mas o governo alega que só pode oferecer 9%, afirmando que não há espaço no orçamento para um aumento de despesas nesse nível.


Em uma tentativa de "resolver a situação" ou ao menos minimizar as críticas, o presidente Lula anunciou, nesta semana, R$ 5,5 bilhões de investimentos para que as universidades concluam mais de 200 obras e construam 10 novos campi (Novo PAC voltado às universidades). Todavia, uma indagação se impõe: se o Governo Federal não consegue sequer manter a contento as atuais estruturas universitárias e arcar com a recomposição salarial de professores e técnicos, qual a razão em ampliar a rede e anunciar novos investimentos?


Lula, republicanamente, reconheceu que a greve é justa e disse não pretende 'punir" os grevistas, mas reclama da duração das paralisações em todo o país. Os servidores da educação, por sua vez, afirmam que apoiaram Lula durante a campanha acreditando em seu compromisso com a valorização do ensino público, algo que sentem não estar se concretizando.


Desde o retorno de Lula à Presidência, as greves aumentaram em 12%, e medidas punitivas, como o desconto salarial dos grevistas, foram derrubadas. Apesar da legitimidade da greve, o governo enfrenta dificuldades financeiras e orçamentárias.


O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vive uma situação análoga à de Dâmocles, um cortesão bajulador que ocupou o lugar do tirano Dionísio I de Siracusa por um dia. Conta a lenda que, durante um lauto banquete, Dâmocles olhou para cima e viu uma afiadíssima espada pendendo sobre sua cabeça, presa apenas por um fio. Essa conhecida alegoria alerta para os constantes perigos que assolam os poderosos. No caso de Haddad, a espada representa a desconfiança do mercado em relação à sua política fiscal.


O arcabouço fiscal, que substituiu o teto de gastos, sinaliza um compromisso com a limitação das despesas do governo. No entanto, a credibilidade de Haddad está constantemente sob ameaça devido à percepção de que suas políticas não são suficientes para controlar o déficit público e garantir a estabilidade econômica. A pressão do mercado financeiro e as incertezas políticas agravam ainda mais a situação, colocando o governo em uma posição precária.


A situação do governo hoje é "delicada". Se a relação com o Congresso não é boa, tampouco o é com a base social que apoiou a volta de Lula à presidência da República há pouco menos de dois anos. Diante desse cenário, o governo se vê num dilema: atender às justas demandas dos grevistas e arriscar o equilíbrio fiscal, ou manter uma postura austera e arriscar perder o apoio popular. Essa encruzilhada define o atual momento político, e a resposta a essa questão poderá determinar o futuro do governo e a estabilidade do país.

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