Albert Camus escreveu: "Um homem é mais homem pelas coisas que silencia do que pelas que diz. Vou silenciar muitas (...)." O silêncio é a morada da inteligência, sem dúvida alguma. E, além da inteligência, também a maturidade reside no silêncio. O silêncio tem um valor estimado. Ele revela até mesmo a grandeza ou o conteúdo de alguém. Aprendi isso com uma estória que certa vez ouvi, que contava o seguinte:
Um velho e seu netinho andavam pela estrada, quando ouviram um barulho estranho, não muito distante, mas indefinido aos ouvidos do garotinho, que perguntou:
— O que é esse barulho, vovô?
— É uma carroça vazia — respondeu prontamente o avô.
— Uma carroça vazia? Mas como você sabe que ela está vazia se ainda não a viu? — retrucou o netinho.
Com uma gargalhada bem-humorada, o velho concluiu:
— Carroça vazia faz barulho. Se ela estivesse cheia, seria mais silenciosa.
Ora, a moral dessa história é que as pessoas vazias também fazem muito barulho, são espalhafatosas, falam de tudo e de todos, dão conta da vida de Deus e o mundo, são fofoqueiras, querem ser as primeiras a saber do último babado da cidade; verdadeiras inimigas do silêncio. Pobreza de espírito!
Confesso que sempre tive coragem para viver. Fiz o que poucos fizeram e continuarei a fazer o que muitos jamais farão. A língua dos invejosos volta e meia se levanta contra mim. Ligo pouco para eles. Já liguei mais, mas os deixei para trás, inertes na estrada, com seus olhares perdidos, cegos pelo veneno que sai de suas bocas.
Vivo como tenho que viver: comungo com meus excessos, equilibrando-os com longos momentos de solidão. Naquilo que mais me jogaram pedras, foi o meu maior ato de coragem e retidão, quando segurei firme nos valores que guardo em meu coração. Mas eu sei que, aos olhos dos tolos, não, não foi. Foi só mais uma loucura minha. Não ligo! Afinal, eu segui e eles ficaram para trás.
É que eu aprendi que me restam apenas alguns anos de vida. Se Deus me ajudar, mais uns 30 ou 40 anos, quem sabe. É pouco tempo que me resta. Não posso sair por aí como as carroças vazias. Não tenho tempo para cuidar da vida de ninguém. Existem milhares de livros que ainda não li; milhares de coisas que ainda não descobri; milhares de lugares que ainda não fui.
Eu tenho sede de conhecer tudo. Eu quero tempo para rir e cantar com meus amigos. Eu quero tempo para chorar de emoção, assistindo bons filmes ao lado da mulher que amo. Eu quero continuar a viver com coragem. Viver a minha vida, sem tempo para cuidar da vida dos outros.
Escrevo isso depois de refletir, em meio à madrugada, sobre uma enxurrada de mensagens que recebi num grupo de WhatsApp. Eram mensagens sobre os atos de violência que vêm ocorrendo na cidade. Mas, veja uma coisa: não são notícias, são fofocas, intenções mesquinhas, desejos maldosos de ver a ruína dos outros, sentimentos cruéis revestidos de nem sei o quê. Quando vi, assustei: eram quase 500 notificações que não li.
Puro barulho, escândalo, um frenesi de gente que não tem nada a ver com nada. Essa agitação sem sentido a respeito dos atos de violência que ocorreram nos últimos dias não teve nenhuma relação com o medo ou com uma reflexão sobre a insegurança pública. Era só o barulho das carroças vazias. Gente que tem tempo demais para não viver.
A sorte é que eu fui na abertura do festival de teatro e ouvi o ator e organizador dizer para umas duas dúzias de pessoas:
— SEM CULTURA, A VIOLÊNCIA VIRA ESPETÁCULO!
Isso me salvou. Salvou a minha alma da loucura das gentes. Eu entendi que o respeitável público que enviava aquelas centenas de mensagens eram sim vazios como as carroças, mas vazios de cultura, de valores, de ética. Por isso, a violência para eles era o grande espetáculo da noite.
Pobreza de espírito!
Absurdo, presidente da Camara querer reverter lei aprovada pela camara apenas em entrevista na radio... isso eh minimo imoral, politicagem barata apenas para agradar telespectadores