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Foto do escritorCamilo Lélis

O teatro nosso de cada dia


Ocorre-me falar do teatro.


De início, informo que possuo formação como ator, o que fiz com base nos dons artísticos herdados (de outras vidas?), outros adquiridos e lapidados, ao longo de mais de 30 anos de vida consagrados ao ofício artístico.  


Mas que raios significa essa palavra: teatro? Tão pequenina, que cabe na boca de qualquer pessoa, independente da idade. Muitas até a usam para adjetivar, de forma pejorativa, a postura de certas pessoas.


- Fulano vez um baita teatro ao subir na tribuna e discursar!


- Ontem, ela até chorou, mas foi teatro puro!


A palavra "teatro", em português,  deriva de palavra grega Theatron (lugar de onde se vê). Para os gregos, essa palavra se referia ao lugar, ao edifício, construção, espaço e, mais especificamente, à arquibancada de onde o público se juntava para assistir às encenações de tragédias e comédias daquela época (400, 500 a.c).


Você sabia que o teatro, enquanto encenação, nasceu na Grécia, certo? Eu aprendi assim, mas cabe um olhar crítico, pois,  ”... o que nasceu na Grécia, foi o Teatro Grego”, esclarece Ariano Suassuna.  O primeiro Teatro que se têm notícias foi erguido na Grécia – Teatro de Dionísio. Ainda é possível visitar essas ruínas, situadas na encosta sul da Acrópole de Atenas (foto).


Arquibancadas de pedra desenham o espaço, em semicírculo, em frente ao espaço delimitado para as encenações. Espaço a céu-aberto, com encenações realizadas à luz do dia, com a presença dos nobres e também dos plebeus.


Quanto custa erguer uma obra, um edifício, um teatro?  Na sua cidade tem? Há engenheiros capacitados para esse feito? Que valor agrega na vida social da cidade e na formação do cidadão ter um teatro?


Quanto custa erguer uma obra, um edifício, um Poliesportivo? Na sua cidade tem? Que valor agrega na vida social da cidade?


Espaços completamente diferentes, que abrigam pessoas e interesses distintos, embora, tanto o Esporte, quanto a Cultura, trabalhem numa linha também de formação do cidadão. É preciso acordar para o corpo, para o esporte e manter uma vida saudável, além de uma mente equilibrada.


Já o teatro, municipal (sonho1) ou particular (sonho2), que  também está aberto ao mesmo público do esporte, nos possibilita outras perspectivas e relações perante a vida. Palco dos artistas, o teatro se abre para o sensível, para o humano, oferecendo ao público uma experiência de vida, na qual as nossas emoções e sentimentos são visitados e revisitados.


Subjetividades e racionalidades dialogam  nesse espaço, onde as paixões humanas, suas mazelas, virtudes e ações são representadas, muitas vezes como cópia fiel da vida. Mas é a vida que imita a arte? Ou a arte que imita a vida? Aqui, a produção de pensamento e entretenimento fluem ao encontro das pessoas.


- Em que medida a Cultura e as Artes tornam-se uma ameaça aos poderes constituídos?


- Por que na sua cidade tem um Poliesportivo e não tem um Teatro?


- Em quatro anos é possível se construir um espaço físico, digno, para abrigar apresentações teatrais, dança, música, seminários, fóruns, congressos e até formaturas?


Em algumas escolas há espaços (geralmente pequenos auditórios), mas que não oferecem condições para receber grandes eventos de natureza artística, pois seria necessário iluminação adequada, tratamento acústico, acessibilidades e outras questões técnicas.


- A quem deveria  interessar, ter na cidade, um Teatro? Ao Poder Público? À iniciativa privada? À população?


Recordo-me quando comecei a minha carreira artística, nos anos 1980, em Itaguara. O espaço disponível era o Salão Paroquial. Nesse período, eu fazia parte do saudoso "Grupo Pedra Lascada". Grupo amador que surgiu naquela época e tinha dois oliveirenses como mentores e diretores do Grupo: Professor Antônio Nicássio e Padre Vanir.


Esse Grupo encenou dois espetáculos e percorreu, em turnê, algumas cidades vizinhas como Piracema, Carmópolis, Crucilândia, Passa Tempo e Cláudio. Fico me perguntando: passados 30 anos, qual a realidade cultural dessas cidades? Habemus Teatro?


Naquela época, me apresentei em salões paroquiais, clubes de dança, poliesportivos, quadras... Nos preparávamos para o espetáculo vestindo e maquiando em banheiros e espaços improvisados. A realidade mudou?


Se a importância do teatro remonta à antiguidade, antes mesmo de Cristo, por que em pleno século 21 milhares de cidades pelo Brasil ainda não possuem espaços dessa natureza?


Queridos leitores, queiram um espaço cultural em suas cidades! Acolham os artistas. O investimento no teatro e na cultura promovem a saúde, a educação, as políticas sociais e a formação cidadã de cada indivíduo. Mais arte, menos violência.


Sigam refletindo que eu fico por aqui, divagando.

 

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