Apesar de ter raízes tricentenárias em IItaguara, somente em 2021, em consequência da pandemia, estabeleci domicílio na cidade. Em função do quadro epidemiológico decorrente da COVID 19, os primeiros meses de em Itaguara foram de restrição da convivência social. Assim, o meu conhecimento e deslocamento na cidade foram incialmente bastante restritos. Aos poucos, com a vacinação e uma melhora nos dados epidemiológicos meu contato com a cidade ampliou-se.
Pela minha formação, na área de saúde coletiva/gerontologia, tenho interesse em aspectos ligados a saneamento básico, acessibilidade e habitacão. Sempre que viajo, procuro identificarr não somente os pontos turísticos de uma cidade, mas também sua periferia. Para mim, conhecer uma cidade em sua integralidade, é circular não só pelos cartões postais. Assim, com maior liberdade de circulaço, me interessei por ter contato com a Itaguara que fica além da praça da matriz. No natal tive a oportunidade de visitar alguns domicílios dessa outra cidade, situada no entorno do “Areião”.
Em saúde coletiva uma das primeiras atitudes preconizadas no planejamento da atenção à saúde de uma população é o diagnóstico situacional. Para tanto, é preciso percorrer o território e observar aspectos relativos às condições físicas da região, ouvir profissionais que atuam na área e intergir com a população. No dia 24 de dezembro, ao visitar a região do “Areião” tive contato físico com a região. Desse primeiro contato, foi possível perceber que a acessibilidade é um problema para determinados moradores. Visitei um domicílio onde moram dois cadeirantes, em uma viela extremamente íngreme, onde só é possível a passagem de um carro.
Considerando que o conceito de saúde atual vai além da ausência de doenças, e envolve a qualidade de vida, pensei na situação desses dois moradores. Qual a possibilidade dessas duas pessoas frequentar um parque, uma praça, ou usufruir de atividades de lazer oferecidas a comunidade?
Em um diagnóstico situacional é importante detectar os problemas, mas também os recursos de um território. Nesse sentido, a visita a um outro domicílio na mesma região mostrou uma outra potencialidade local. Uma pessoa se disponibilizou a receber uma cesta básica para uma moradora que não estava em casa. Putnan, a partir do estudo de Tocquevile, desenvolveu em uma pesquisa na Itália que apresenta o capital social como um importante recurso para a efetivação de políticas públicas. Em dois dos domicílios visitados, percebi a solidariedade dos moradores em relação às pessoas com incapacidades.
Seria esse um aspecto da comunidade que pode contribuir na exequibilidade de políticas de atenção à saúde dessa região? Esse recurso é devidamente explorado? A resposta a estas questões pode contribuir na efetivação de políticas de saúde que visem a qualidade de vida de moradores desse local.
Segundo autores como Eugênio Vilaça Mendes e Edgar Nunes de Moraes, nosso sistema de saúde foca principalmente a atenção às condições agudas. Entretanto, o Brasil vive hoje um processo de transição epidemiológica, quando há uma mudança na prevalência de doenças agudas para as crônicas, decorrente do processo de envelhecimento populacional. Diante desse contexto epidemiológico, é necessário reorganizar a atenção à saúde de um crescente contingente de indivíduos com incapacidades. Este quadro demanda, além da assistência médica, a formação de vínculos de solidariedade nas comunidades.
A questão a ser explorada em novos artigos a serem publicados é se existe um potencial para isso em Itaguara? A resposta a esta pergunta envolve futuramente a oitiva de atores sociais que atuam no atendimento à população. Nos próximos artigos voltarei ao assunto.
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